Órfão

 Órfão

Anderson de Oliveira Ribeiro
22/04/2020

Foi assim, no fim da tarde do dia 15/04/2022 e quase no fim de uma pandemia que sou arrebanhado pelo turbilhão caótico da vida. Meu pai faleceu! Sim, aquela figura imortal, dura, inflexível e poderosa da minha infância se foi.
Faz algum tempo que trabalho em um poema:

Em uma parte mensurável do tempo me odeio.
No que me resta de tempo me sobra culpa do odiar.
Culpo a incapacidade de ser capaz.
Cansado de ser, dou volta em torno mim, buscando o fim do começo.

... 

A exaustão de saber que a saída do casulo é uma trajetória diferente para o mesmo ponto.
Basta...
Quero uma pele não um avatar...
Basta...
 
Como esse sentimento faz sentido hoje e fará por muito tempo! A exatos 1.484 dias perdi minha energia de motivação, meu colo acolhedor, minha mãe! Nesta estranha tarde de abril eu perdi minha força, meu brio, minha coragem, meu pai.
As palavras, tragicamente, não eram nosso forte. Não só as palavras, os sentimentos! Ele era um homem forjado nas intempéries da vida. Feito para sobreviver a qualquer coisa a qualquer custo. Um ser humano em seus acertos e erros, e em suas contradições, como disse meu Tio Eduardo ele viveu como quis e fez o que quis. 
Mesmo com todas nossas divergências, ele formatou meu caráter e minha moral e, juntamente com minha mãe,  fez de um filho de camelô um doutor em astrofísica a partir de muito trabalho que lhe cobrou sua saúde.


Agora não tenho mais para onde ir, não tenho um refúgio. Transformo-me em refúgio para minha família e tenho que pavimentar o caminho para que meu filho Miguel possa exercer suas vocações como meu pai e minha mãe fizeram por mim.
73 anos de uma vida vivida e destes pode fazer parte de 42 dando mais trabalho do que ajudando (risos), mas em sua última noite de lucidez eu pude acalmá-lo e deixar ele feliz fazendo ele ver seu neto, algo que lhe trouxe o último brilho no olhar. Uma pena que minha promessa que as coisas acaberiam bem não se cumpriu e ele falaria: "tá vendo, você faz tudo errado... Não presta a atenção...".

ADEUS ADEMOSTANO RIBEIRO E OBRIGADO POR ME FAZER ESTE HOMEM QUE EU SOU! 

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