Sairei do WhatsApp e você deveria pensar em fazer o mesmo
Estão criando nossos modelos virtuais utilizando-se da “AI”, e o WhatsApp é uma das ferramentas que possibilita isso.
Victor Hugo G. Pinto 20/09/2020
Eu confesso que sou crítico à forma como as redes sociais são usadas por nós, mas sobretudo, como são usadas contra nós. Indiscutivelmente, as redes sociais, como Facebook, são a salvação para profissionais autônomos, indivíduos injustiçados em Estados opressores, etc. Sua utilização para conscientização e mobilização da população na onda revolucionária da primavera Árabe mostrou o quanto ela pode ser benéfica a sociedade. Mas a que preço?
Não me peguem como um cara que odeia a informática, pelo contrário, eu me formei em processamento de dados nos anos 90, vibrava com os seus avanços e, como muitos, não imaginava que chegaríamos tão longe, em tão pouco tempo. Bom, hoje eu tenho outra profissão, mas continuo sendo um entusiasta da computação. Tampouco quero fazer deste texto uma fonte de dados ou utilizá-lo para mostrar inúmeras evidências; para isso, eu sugiro acessarem os links ao final do texto e a lerem os termos de privacidade do WhatsApps. Muito do que está aqui se baseia em notícias de jornais e em documentários como: Facebook: desvendando o Código (2018), disponível no Philos; Privacidade Hackeada (2019) e O Dilema das Redes (2020), ambos disponíveis no Netflix. Comecei a utilizar o WhatsApp em 2013. Eu o achava um aplicativo inofensivo, o que mudou muito após a sua compra pelo Facebook. Talvez vocês já se adiantaram ao que se segue e estão excogitando: realmente, nossos dados são vendidos para terceiros direta ou indiretamente, somos bombardeados com propagandas sobre o que comentamos em chats, recebemos mensagens falsas a todo momento, etc. Com certeza, muitos passam horas “zumbizando” no celular, sendo atacados por intermináveis notícias que nos seduz os olhos até nos petrificar enquanto somos bombardeados por publicidades. Posso até dizer que sou forte e não me deixo seduzir por muito tempo, que fico uma horinha por dia.
Posso até fazer um paralelo com bebidas alcoólicas: eu resisto, tento não abusar delas para não perder o dia seguinte ensolarado, vegetando em cima da cama com ressaca. Eu escolho o que eu bebo e o quanto eu bebo. No caso, o que vejo na web e o quanto vejo. O caso da bebida é verdade, na maioria das vezes, mas no caso da web não é tão simples assim. Ninguém escolhe tudo o que vê. Mas, ainda sim, me preocupo com as crianças e adolescentes que devido aos seus graus metamórficos, não tenham desenvolvido a mesma resistência. Estudos mostram que 50% dos adolescentes e 27% dos seus pais se sentem viciados em seus celulares. Há relações entre tempo em mídias sociais e depressão de adolescentes entre 14 e 17 anos que, apenas entre 2009 e 2017, aumentou em 60%. Outros exemplos, como o do gráfico abaixo, podem ser encontrados facilmente em jornais de renome. Na verdade, eu não preciso virar muito a cabeça para ver que à minha volta isso ocorre. Filhos de amigos e de conhecidos, eu tenho alguns bons exemplos.
Hoje eu sou pai de uma menina de 3 anos, uma possível usuária. Eu luto para que ela não entre em contato com drogas virtuais pesadas, e que no futuro eu tenha que a mandar para um Rehab. É como os nerds da informática dizem: existem duas indústrias que chamam o cliente de usuário: a das drogas e a da informática. No entanto, não é apenas por isso que eu saio especificamente do WhatsApp. Não iria mudar esse cenário, apesar de que ajudaria bastante. Eu acho que há problemas mais sérios e que nos afetarão a todos. Os problemas são a vigilância e a desinformação. A vigilância que exercem sobre nós tem como intuito criar modelos de consumidores; modelos de você, de sua família; nem que para isso utilizem da desinformação. O perigo maior é como políticos e governos usam e usarão nossos modelos para nos controlar como sociedade. Seremos então, fantoches nas mãos de governos e de empresas? Explico mais a seguir.