PAPO DE BARRIGA COM ELX III


O Facebook e o mar de ignorância 



    Jorge Furtado em seu drama documentário O Mercado de Notícias [1] fala uma frase fantástica, ele diz: " o #facebook da voz a para um multidão de idiotas". Esse é o ponto, não estamos sabendo lidar com o poder e abrangência das redes sociais. Neste carnaval surgiu um meme (ver figura) que relacionava o comportamento de grávidas da #sapucai com os direitos das grávidas. Mesmo que a origem da postagem tenha sido uma brincadeira, não sabemos como o receptor vai entender isso.

    Aí começa o problema! Não sabemos lidar bem com as redes sociais, que são um canal de comunicação, porque na prática não sabemos bem o que é comunicação. A comunicação é uma forma de troca de informação que em geral usa uma linguagem, de forma que representa a transmissão de mensagens entre um emissor e um receptor. Nas redes sociais o receptor não é conhecido, deste modo não sabemos como ele compreenderá a mensagem recebida, assim uma brincadeira pode virar um reforço em algum viés ideológico que o receptor tenha, podemos chamar isso de "ruído" de transmissão.

    Este meme é vazio de informações e carregado de simbolismo, como os memes devem ser [2], pois associa a imagem da grávida a um comportamento de uma mulher que se aproveita do seu estado para ter vantagem perante seus pares fazendo uma comparação rasa, entre um trilhão de grávidas com algumas que estão na sapucaí. Essa colocação tão simplória pode levar um alto nível de ruído de transmissão.

    Agora, uma ação deste ruído pode transformar uma brincadeira em uma arma ideológica para um cidadão que já pensava assim, porém ainda não tinha feito esta associação. Isso é gravíssimo, podemos estar induzindo no outro coisas que se quer temos ideia do resultado, lógico que isso acontece na mesa do bar, contudo quanto maior a distância do receptor maior é a ação do ruído. Não podemos tratar as redes sociais como uma extensão do bar ou da saída da igreja, local onde fazemos piadinha negras (algo absolutamente normal), pois este eco vai reverberar MUITO longe e sabe-se lá com qual entendimento. Viviane Mosé em uma de suas palestra fala: "somos responsáveis por que postamos e compartilhamos". Somos responsáveis, todos que gritaram "pula, pula, pula" são corresponsáveis pela morte do menino[3]. 


    Mais um exemplo foi o caso da mulher morta, LINCHADA [4], no Guarujá depois de uma postagem afirmando que ela tinha matado uma criança por bruxaria, e depois foi descoberto que NÃO ERA ELA, o problema que não da para ressuscitar ela agora, ela morreu. Da mesma forma essa postagem, que em uma roda de bar seria apenas mais uma piadinha sem graça, pode gerar enumeras ofensas as grávidas trabalhadoras que nunca puderam por o pé na sapucai !

    Richard Dawkins em seu belo livro O GENE EGOÍSTA escreve: 
A vida inteligente em um planeta torna-se amadurecida quando pela primeira vez compreende a razão da sua própria existência. Se criaturas superiores provindas do espaço algum dia visitarem a Terra, a primeira pergunta que farão, a fim de avaliar o nível de nossa civilização será: "Eles já descobriram a evolução?". Evolução é ser melhor para si próprio e para o outro.

REFERÊNCIA:
[1] O Mercado de Noticias  https://www.youtube.com/watch?v=zq4CpvHdbAA
[2] Competition among memes in a world with limited attention L. Weng1, A. Flammini1, A. Vespignani2,3,4 & F. Menczer1
[3] https://www.terra.com.br/noticias/brasil/catve/videos/jovem-ouve-pula-pula-e-se-joga-de-passarela-na-br-116,8582928.html
[4] http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2014/05/mulher-morta-apos-boato-em-rede-social-e-enterrada-nao-vou-aguentar.html
[5] O Gene Egoísta – Richard Dawkins

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